domingo, 14 de novembro de 2010

CONTINUAREI ESPERANDO

Quando à tardinha
A primeira estrela aparecer no céu
Cintilando de glíter o manto azulado
Estarei de esperando
Aparecerão uma a uma
Na medida em que a escuridão
Tomar conta de tudo
E eu?
Estarei te esperando
Sentindo a brisa calma
Olhando para cima e pensando
No silêncio na noite
Podes até não aparecer
Continuarei te esperando
Imaginando as imensidades do universo
Seus mistérios, suas vastidões
Continuarei te esperando incansavelmente
Vislumbrando cometas, satélites, meteoros
e asteróides
Refletirei sobre a distância que nos separa
E ficarei esperando
Não terei pressa
Descubro que as estrelas
Que ora começaram a se mostrar
Já não existem  mais
Suas luzes viajaram por bilhões de quilômetros
Milhares de anos-luz
E apesar de já estarem mortas
Continuam brilhando magníficas
Por tudo isso
Continuarei te esperando
Se a menor pressa

Em 21/12/2003
Serrolândia - BA

domingo, 24 de outubro de 2010

TEUS OLHOS

Diante dos teus olhos
Curvo-me ao brilho enluarado
Cedo ou tarde, em lugar algum
Pouso as pálpebras e olho no chão

Diante dos teus olhos
Sou menino encurralado
Intranquilo, sou todo, um
Remoendo acordes de uma canção

Diante dos teus olhos
Sinto-me um cacto amarelado
Em muitos, em nenhum
Cantos incógnitos do coração

Diante dos teus olhos
Flertes entrelaçados
Lábios, entranhas, jejum
Toques, momentos, ilusão

Diante dos teus olhos
Sou a sombra do emaranhado
Cortina do mar azul
Em minha íris, tua embarcação

Serrolândia - BA
Em 19/08/2004

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ORIENTAÇÃO

Oriente-se nesse mundo imenso
Siga à risca as coordenadas
Use a bússola e o bom-senso
Deixe a porta escancarada

Trace centenas de paralelos
Sobre o mar, sobre gregos e troianos
Com lápis azuis, verdes ou amarelos
Escorrege verticais os meridianos

Cardeais antagônicos e extremos
À deriva no desalento
Colaterais, mas também supermos
Dos rumos ou rosa-dos-ventos?

Astrolábio, espaço e amplidão
Poente o sol nascente acontece
Cruzeiro do Sul na solidão
Satélites digitais e GPS

Leste, Oeste, Norte, Sul
Nascente, oriente, poente, ocidente
Seguir as direções do planeta azul
Pode ser fantástico e surpreendente

Em 30/08/2004
Serrolândia - BA

domingo, 8 de agosto de 2010

VAZIO

O vazio não é vazio
Porque preenche os espaços
Enche os lugares de vazio
Ele é algo que existe
A vida, o sonho, o caos
A liberdade
O vazio pode ser o pano de fundo
Da alma humana
Do existir
Ocupa mais espaço neste mundo
Que qualquer coisa
Não é algo insignificante
Descartável
Ou coisa qualquer
Esvaziar os espaços
É deixá-lo cheio
Cheio de possibilidades
Repleto de enigmas
De obscuridades
Tolice é pensar
Que estar vazio
É estar sozinho

Em 30/08/2004
Em Serrolândia - BA

sábado, 7 de agosto de 2010

DE MIM

Parte de mim é solidão
A outra parte é medo
Do lado direito, ilusão
Do lado esquerdo, segredo

Do lado de dentro é verdade
Do lado de fora, paixão
No canto de lá, sensibilidade
No canto de cá, tesão

Do canto de cima, bondade
Do lado oposto, perversidade
Do lado do bem, o mal
Do mau, o bom, igual

Aqui, a sinceridade
Ali, a verdade
Acolá, altivez
Bem pra lá, insensatez

Perto dos pés, certeza
Acima dos olhos, clareza
Abaixo do umbigo, bramura
Acima dos ombros, bravura

Na fronte encarnada, lucidez
Nas costas cansadas, maciez
Nos joelhos, obediência
Na cabeça baixa, demência

A boca, luxúria
No toque das mãos, candura
O ouvido, lamúrias
E na mente, loucura!

Em 30/07/2010
Serrolândia - BA

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

À LASER?!

Era preto o vinil
Lado A e lado B
Robusto e viril
Acabou que ninguém vê!

Aí veio o CD
Um tal compact disc
Aposentou o LP
Vendeu mais do que alpiste

O tempo foi passando
O DVD inventaram
Vídeo cassete acabando
A fitinha aposentaram

Agora vejam vocês
A coisa foi mais além
Inventaram MP3
Música pela Internet
Num CD é mais de cem

É tanta novidade
Chega dá agonia
É o preço que se paga
Pela tecnologia

Serrolândia - BA
Em 23/08/2004

domingo, 25 de julho de 2010

MENINO DESALENTO

Um olhar triste e desbotado
O menino sorri de desalento
Murcho em seu cantinho de solidão
Busca a luz opaca da escuridão
Driblando as vidas cordas do tormento

Que menino é esse
Que nas tortas vielas lamenta?
Escondido sob a própria sombra
De pés descalços na vida tromba
É a tristeza que se apresenta

Levanta menino, levanta daí!
Sacode os galhos que te fazem feliz
Ergue os olhos, arriba a cabeça
Grite, corra, cresça e apareça
Vai nos erros tornar-se aprendiz

Sue a camisa rota
Rasgue o peito e mostre o que és
Piche os muros dessa insensatez
Desabroche e nasça mais uma vez
No destino, desenlace e recosture o viés

Serrolândia - BA
18 de Dezembro de 2005

segunda-feira, 12 de julho de 2010

CORDEL DO 11 DE JULHO

Ave Maria!
Nossa Senhora!
"Crem" Deus Pai!
Cruz credo!
Quase que me esqueço
Nossa Senhora da Encarnação!
É hoje o dia
11 de julho
De da Arte e Educação

Mas não vamos nos espantar
É um dia muito especial
Com todo um significado
Arte, educação, cidadania
Comemoremos com muita alegria
Essa data sensacional
É o povo, que com ousadia
Vem transformar o desigual

Em 28/06/2003
Serrolândia - BA
Feito especialmente para
a estreia do grupo ARTEFATO

sábado, 10 de julho de 2010

O SOM DA CAATINGA

As áridas planícies do grante sertão
Desvendam os mistérios da sua alma
O sol alaranjado banha o céu
De tons em degradê
As colinas desnivelam-se mais escuras
E no horizonte as árvores balançam
Sob a brisa fresca de fim de tarde
Pássaros aglutinam-se nas copas das árvores
A fim de um sono tranquilo
A maleta na água
Ondula calmamente
Pequenas folhas que se desprendem dos galhos
Vaga-lumes cintilam o capim ressecado
E pequenas partículas de poeira
Sobem acinzentando a paisagem
Equanto nuvens disformes
Seguem seu rumo sem pressa
Ao longe, as cigarras emitem sonoridades
De um verão seco à espera das primeiras águas
Os grilos já dão o ar da graça
Numa harmonia sonora contagiante
Enquanto no céu
As estrelas fazem sua parte
Deixando tão belos
Os fins de tarde na caatinga

Em 26/09/2004
Serrolândia - BA

quarta-feira, 7 de julho de 2010

BANQUETE POÉTICO

A poesia está acesa
De cores diversas
E formas dispersas
A poesia compõe a mesa

Servida à degustação
Num banquete primoroso
Regada de muito gozo
Se processa a digestão

O cheiro é fascinante
Inala-se palavras e sentimentos
Angústias, alegrias e desalentos
Causa efeito delirante

Poesia é pra ser comida
Ingerida sem dó nem piedade
Engolida com vontade
Nesse banquete da vida

Em 06/09/2004
Serrolândia - BA

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ALMA

A satisfação da alma
Liberta o homem
O corpo, matéria
A alma, abstrata
Insignificante pode ser
Aquele que não sonha
Aquele que não transcende
Extrapola o real, o concreto
Homens foram feitos pra sonhar
Não viver, tão somente
Para ser gente
E sonhar...
Sonhar que não é gente
Sonhar que não é homem
Que é tudo
E que não é nada

Em 07/06/2003
Serrolândia - BA

sábado, 3 de julho de 2010

POETA E POESIA

De tanto pensar em fazer poesia
O poeta se esqueceu que era humano
Pensou ser caneta, lápis, papel
E imaginação
Pensou ser amor, alegria, fantasia
E emoção
De tanto escrever poesia
O poeta se lançou no cosmo
Sentiu-se livre e desprendido
Catou os sentimentos ao seu redor
Com o deslizar sublime da caneta sobre o papel
Pedra, sapato, bola
Ressignificaram-se em seu contexto
Descontextualizou-se o estático
O poeta se viu de tal forma na poesia
Que não separou-se jamais
Num só corpo de matéria abstrata
A criação enchia os olhos
Fundiram-se criador e criação
Num mundo que se fez mais belo
De poeta e poesia

Em 02/09/2003
Serrolândia - BA

sexta-feira, 2 de julho de 2010

COMPOSIÇÃO TEMPORAL

Numa linha imaginária
O futuro acontece
E da síntese planetária
Diminuto se parece
Trama confusa e hilária
Que tampouco transparece

No súbito de um pensamento
O presente se desfaz
Se expande a contento
Extrapola e se contrai
Vai da brisa ao tormento
Traiçoeiro e fugaz

De um arquivo virtual
O passado se esboça
Nutre um sonho pessoal
Qual acorde de uma bossa
Transfigura o irreal
Da ignorância nossa

E assim se delineia
Passado, presente e futuro
Ao sabor da maré cheia
O valor do ato impuro
É do sangue que na veia
Apodrece o vão do muro

Em 31/10/2002
Boa Vista do Tupim - BA

quinta-feira, 1 de julho de 2010

OFÍCIO DE CADA DIA

Todo dia a mesma coisa
A mesma coisa todo dia
Acordo de manhã cedinho
E começa a agonia

Não bastasse a dor do sono perdido
Vem um frio de matar
Vou seguindo atordoado
Cada passo, um bocejar

O sol desperta no horizonte
A bolsa pesa no meu ombro
Meus olhos ainda remelados
Arregalam-se em assombro

Agora já mais lúcido
Estou no meio do caminho
Pessoas vestidas iguais
Me tratam com carinho

Avisto o prédio à minha frente
Agora não tem mais jeito
Ouço gritos de todos os lados
Local de trabalho perfeito

Nem me lembro do sono perdido
Mesmo que quisesse não poderia
Estou na sala de aula agora
Aguentando diversas estripolias

Volto pra casa apressado ao final
É bom descansar desse estorvo
Vivendo a ilusão sem saber que amanhã
Começará tudo de novo

Em 26/07/2002
Boa Vista do Tupim às 23h14min

quarta-feira, 30 de junho de 2010

OS GATOS

São belos os gatos
Pequenos, grandes, gordos e magros
Pretos, brancos, mariscos e pintados
Subindo e descendo dos telhados
São belos os gatos

Angorá, persa, siamês
Vira-lata, chinês, burguês
Os olhos e toda tez
Castanho, verde, azul, imaginem vocês!
Lindos como bebês

Olhar sedutor e misterioso
Vontade própria, genioso
Se cruza a estrada, supersticioso
Sociável, amigável, amoroso
Apela por um carinho gostoso

Os gatos são especiais
Assim como os cães, também são leais
Só não são submissos, jamais!
São inteligentes, atraentes, fatais
Assim são os gatos e nada mais

Em 05/12/2003
Serrolândia - BA

segunda-feira, 28 de junho de 2010

PRIVADA DA IGNORÂNCIA

Tem gente que pensa
Que prato é penico
É... penico
Dão a mesma função
Aos dois objetos
Sabe aquele ditado:
"Cuspiu no prato que comeu?"
Pois é... fazem isso mesmo
Confundem o público e o privado
Ou melhor dizendo: privada
Privada da ignorância
De jogar lixo na rua
De mijar encostado no muro
De pichar a parede alheia
Em busca de aventura
De depredar o patrimônio público
Dizendo que é do governo
Burlar as leis achando que é inteligente
Essa gente, e como tem gente!
Não passa de idiotas
Que reproduzem exatamente
O que as elites querem
Gente burra, mal educada
Que dependem eternamente
Da "sabedoria" e intelectualidade
Deles, que são minoria
Gente que não sabe o poder que tem
Não usa a força que possui
O que você prefere:
Lutar contra tudo isso ou
Continuar cagando e comendo
No mesmo prato?

Em 16/05/2003
Serrolândia - BA

quarta-feira, 23 de junho de 2010

DERIVA

Estamos à deriva
Neste mar de ilusão
Sem porto
Nem cais
Sem farol
E direção
Seguimos sem rumo
Para qualquer lugar
Sem chão
Sem timão
Nem como parar
Viagem, mistério
Trilhos fatais
Caminhos cruzados
Vidas desiguais

Em 22/12/2003
Serrolândia - BA

terça-feira, 22 de junho de 2010

CAMINHANDO

Encontro sempre a saída
Para as minhas doces feridas
Nos tropeços da trajetória
No percalço e na vitória
Pela cadência da vida

Busco a tinta improvável
Pra tingir o insuportável
Com pigmentos de saudade
A efêmera eternidade
Numa plêiade incansável

Sou encontro com ninguém
Transitando no além
Com linhas da curta existência
Consturo os retalhos de toda ausência
Tristes farpas do alguém

Viajo nos trilhos da loucura
Embriagado de amargura
Conto o tempo do acaso
Adiantado relógio do atraso
Como azedume e doçura

Em 28/04/2007
Serrolândia - BA

segunda-feira, 21 de junho de 2010

VENENO BRANCO

Serenos campos
Brandos e abertos
Sonhos encarnados
Vento sussurrante
A bailar

Moreno canto
Quando incerto
Risonho escancarado
Alento inebriante
Ao luar

Pequeno antro
Manto encoberto
Tristonho embaçado
Atento estonteante
A cantar

Veneno branco
Meandro colérico
Demônio cansado
Invento mirabolante
No ar

Em 04/08/2005
Serrolândia - BA

sexta-feira, 18 de junho de 2010

LUTO

"Um Amador Poético" não poderia deixar de prestar
uma homenagem a um dos maiores escritores da
literatura mundial. Hoje perdemos José Saramago.
Suas obras e sua memória perdurarão por muitas
gerações, pela solidez do seu pensamento, pela
originalidade de suas ideias.

RODA DAS FLORES

Roda, gira
A vida roda
Gira vida
Viva rosa
Sempre-viva
Margarida

Giral o sol
Sol gira
Branca vida
Ida e vinda
Girassol

Gira o tempo
Vira as horas
Hora viva
Roda viva
Onze-horas

Tempo roda
Tempo tanto
Vira e roda
Flor-do-campo

Roda o tempo
Curto tempo
Tempo encurta
Tanto tempo
Linda murta

Furtacor
Gira e furta
Jaz em mim
Furta e roda
Vida curta
O jasmim

Vem de mim
Vem e roda
Roda o tempo
Tempo escravo
Vida viva
Vira o tempo
Doce cravo

Tanto conta
Conta e gira
Vira e rir
Rir e roda
Furta e vira
Flor-de-lis

Vai rodando
Roda e vai
Vai e passa
Flor em flor
Beija e gira
Gira e roda
Roda e vai
Beija-flor

Voa e vai
Vai e gira
Gira e exala
Seu olor
Perfumada
Linda flor

Para todas as flores, vegetais e humanas,
que tornam este mundo mais perfumado.

Em 15/04/2003
Boa Vista do Tupim - BA

quinta-feira, 17 de junho de 2010

LETRAS CADENTES

As letras caem
Não vejo de onde
Mas as letras caem
De todos os lados e cantos
Do céu, do telhado
Da árvore, do livro que se abre
Caem descompassadamente
Pulam, engatinham
Juntam-se
E formam palavras
Código de coisas que conheço
Interpreto e pronuncio
As letras continuam caindo
Nos altos e baixos planos
Que posso imaginar
No colorido das orações
Que já posso formar
No mar de coisas belas
Onde quero navegar
Leio, leio, leio...
Decompassadamente, leio
Interpreto, imagino, crio
E recrio o inimaginável
Cato as letras no ar
Quantas posso reunir
De várias cores, tamanhos e estilos
Maiúsculas e minúsculas
Vogais e consoantes
Transporto os meus sentidos
Ignoro tudo ao meu redor
Quero cada vez mais letras
Mais palavras, mais orações
Mais textos
Sou um escritor
Das vastas ilusões do inconsciente
Sou um leitor
Das várias sensações inconsequentes
Mas antes de tudo
Sou um catador de letras cadentes

Em 06/04/2003
Boa Vista do Tupim - BA

quarta-feira, 16 de junho de 2010

CANIVETE DO TEMPO

Arrebato o canivete do tempo
E risco a pele com destreza
Marcas contínuas, mas firmes
O sangue escorre
Por entre os poros
Cintilam sob os raios do sol
Descem lentamente
Marcando seu caminho
Fazendo desenhos sinuosos
Como se quisessem ser serpentes
Tortuosidades que exprimem o real
Marcas dos vultos do inconsciente
Congelam-se, coagulam e mudam
De cor, de tom, de forma
O sangue escorrido
Agora estancado e tiso
Imóvel e corpuscular
O canivete do tempo
Já não é mais
Já não faz mais sentido
Os vincos por ele deixados
Cicatrizarão
Marcarão seu caminho
Mas irão se fechar
O tempo é mestre e perdição
É do homem o ponto de partida
O meio e o fim
Rasgar esse cordão, lascerar
Interromper a sequência do movimento
E mudar o curso do destino
Cortar à canivete
Do tempo
Do modo de ver o infinito
O homem é
Por ele mesmo
O próprio canivete
Do tempo

Em 18/12/2005
Serrolândia - BA

terça-feira, 15 de junho de 2010

CATACRESIANDO

Lua-de-mel
Qual zangão bravo
Que voou tão longe
Para te transformar em favo?
Quem foi o engraçadinho
Que, metido a pintor
A barata envernizou?
E resolveu deixar
Os dias cinzentos sem cor?
O espertalhão que tingiu
A abóbora de laranja?
E disse que a encosta tem franja?
Obturou o dente da faca
Afirmou pro pato que
O cavalo tem quatro patas?
Que descobriu as pernas da mesa
Exibindo-as com destreza?
Puxou a orelha do livro?
Colocou óculos de grau
No olho do furacão?
Tampou a boca da noite
Com total precisão?
Comprou um chinelo
Para o pé-de-moleque
Uma luva de pelica
Para a mão do pilão?
E um piercing transado
Pro nariz do avião?
Vestiu meia-calça
Na colcha de retalhos
Terno e gravata
No triste espantalho
Botou peruca loura
Na cabeça do prego
E colírio de pimenta
No olho do cego
Passou batom rosa-choque
Na boca da garrafa
Envenenou as maças do rosto
Com doses de cachaça
Depois fugiu...
Voou pro céu da boca
Foi engolido pela boca do estômago
E sumiu!

Em 03/06/2005
Serrolândia - BA

segunda-feira, 14 de junho de 2010

SONHO DE PENSAMENTO

Nas vastas amplidões dos serenos campos
Corri além dos vales amarelos
Transportando nos mais altos crepúsculos
As noites com que sonhava
A grama encarnada coberta de orvalho
Parecia estender-se como tapetes de algas
Murchas na maciês das colinas
A brisa gélida de quase junho
Transgredia a ponta do meu nariz
Como um toque sutil e ávido
Folhas secas voavam
E dividiam o céu alaranjado
Com pássaros cinzentos
Burlando o colorido som do vento
Que movia os galhos dos arbustos
Tudo era tão simples...
O cheiro da água cristalina
O jorro do pequeno córrego
Dobrava e erodia vagarosamente
As pedras que ali estavam depositadas
O tudo e o todo era sublime
Cobras e lagartos
Desenhavam estranhas figuras
Na areia pálida do descampado
Vagarosamente
Extremamente lento
O sol despontava como rei supremo
As cores do prisma
Delineavam ainda mais a paisagem:
Amarelo, ciano e magenta
E o sonho mudou de cor

Em 11/04/2003
Boa Vista do Tupim - BA