domingo, 25 de julho de 2010

MENINO DESALENTO

Um olhar triste e desbotado
O menino sorri de desalento
Murcho em seu cantinho de solidão
Busca a luz opaca da escuridão
Driblando as vidas cordas do tormento

Que menino é esse
Que nas tortas vielas lamenta?
Escondido sob a própria sombra
De pés descalços na vida tromba
É a tristeza que se apresenta

Levanta menino, levanta daí!
Sacode os galhos que te fazem feliz
Ergue os olhos, arriba a cabeça
Grite, corra, cresça e apareça
Vai nos erros tornar-se aprendiz

Sue a camisa rota
Rasgue o peito e mostre o que és
Piche os muros dessa insensatez
Desabroche e nasça mais uma vez
No destino, desenlace e recosture o viés

Serrolândia - BA
18 de Dezembro de 2005

segunda-feira, 12 de julho de 2010

CORDEL DO 11 DE JULHO

Ave Maria!
Nossa Senhora!
"Crem" Deus Pai!
Cruz credo!
Quase que me esqueço
Nossa Senhora da Encarnação!
É hoje o dia
11 de julho
De da Arte e Educação

Mas não vamos nos espantar
É um dia muito especial
Com todo um significado
Arte, educação, cidadania
Comemoremos com muita alegria
Essa data sensacional
É o povo, que com ousadia
Vem transformar o desigual

Em 28/06/2003
Serrolândia - BA
Feito especialmente para
a estreia do grupo ARTEFATO

sábado, 10 de julho de 2010

O SOM DA CAATINGA

As áridas planícies do grante sertão
Desvendam os mistérios da sua alma
O sol alaranjado banha o céu
De tons em degradê
As colinas desnivelam-se mais escuras
E no horizonte as árvores balançam
Sob a brisa fresca de fim de tarde
Pássaros aglutinam-se nas copas das árvores
A fim de um sono tranquilo
A maleta na água
Ondula calmamente
Pequenas folhas que se desprendem dos galhos
Vaga-lumes cintilam o capim ressecado
E pequenas partículas de poeira
Sobem acinzentando a paisagem
Equanto nuvens disformes
Seguem seu rumo sem pressa
Ao longe, as cigarras emitem sonoridades
De um verão seco à espera das primeiras águas
Os grilos já dão o ar da graça
Numa harmonia sonora contagiante
Enquanto no céu
As estrelas fazem sua parte
Deixando tão belos
Os fins de tarde na caatinga

Em 26/09/2004
Serrolândia - BA

quarta-feira, 7 de julho de 2010

BANQUETE POÉTICO

A poesia está acesa
De cores diversas
E formas dispersas
A poesia compõe a mesa

Servida à degustação
Num banquete primoroso
Regada de muito gozo
Se processa a digestão

O cheiro é fascinante
Inala-se palavras e sentimentos
Angústias, alegrias e desalentos
Causa efeito delirante

Poesia é pra ser comida
Ingerida sem dó nem piedade
Engolida com vontade
Nesse banquete da vida

Em 06/09/2004
Serrolândia - BA

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ALMA

A satisfação da alma
Liberta o homem
O corpo, matéria
A alma, abstrata
Insignificante pode ser
Aquele que não sonha
Aquele que não transcende
Extrapola o real, o concreto
Homens foram feitos pra sonhar
Não viver, tão somente
Para ser gente
E sonhar...
Sonhar que não é gente
Sonhar que não é homem
Que é tudo
E que não é nada

Em 07/06/2003
Serrolândia - BA

sábado, 3 de julho de 2010

POETA E POESIA

De tanto pensar em fazer poesia
O poeta se esqueceu que era humano
Pensou ser caneta, lápis, papel
E imaginação
Pensou ser amor, alegria, fantasia
E emoção
De tanto escrever poesia
O poeta se lançou no cosmo
Sentiu-se livre e desprendido
Catou os sentimentos ao seu redor
Com o deslizar sublime da caneta sobre o papel
Pedra, sapato, bola
Ressignificaram-se em seu contexto
Descontextualizou-se o estático
O poeta se viu de tal forma na poesia
Que não separou-se jamais
Num só corpo de matéria abstrata
A criação enchia os olhos
Fundiram-se criador e criação
Num mundo que se fez mais belo
De poeta e poesia

Em 02/09/2003
Serrolândia - BA

sexta-feira, 2 de julho de 2010

COMPOSIÇÃO TEMPORAL

Numa linha imaginária
O futuro acontece
E da síntese planetária
Diminuto se parece
Trama confusa e hilária
Que tampouco transparece

No súbito de um pensamento
O presente se desfaz
Se expande a contento
Extrapola e se contrai
Vai da brisa ao tormento
Traiçoeiro e fugaz

De um arquivo virtual
O passado se esboça
Nutre um sonho pessoal
Qual acorde de uma bossa
Transfigura o irreal
Da ignorância nossa

E assim se delineia
Passado, presente e futuro
Ao sabor da maré cheia
O valor do ato impuro
É do sangue que na veia
Apodrece o vão do muro

Em 31/10/2002
Boa Vista do Tupim - BA

quinta-feira, 1 de julho de 2010

OFÍCIO DE CADA DIA

Todo dia a mesma coisa
A mesma coisa todo dia
Acordo de manhã cedinho
E começa a agonia

Não bastasse a dor do sono perdido
Vem um frio de matar
Vou seguindo atordoado
Cada passo, um bocejar

O sol desperta no horizonte
A bolsa pesa no meu ombro
Meus olhos ainda remelados
Arregalam-se em assombro

Agora já mais lúcido
Estou no meio do caminho
Pessoas vestidas iguais
Me tratam com carinho

Avisto o prédio à minha frente
Agora não tem mais jeito
Ouço gritos de todos os lados
Local de trabalho perfeito

Nem me lembro do sono perdido
Mesmo que quisesse não poderia
Estou na sala de aula agora
Aguentando diversas estripolias

Volto pra casa apressado ao final
É bom descansar desse estorvo
Vivendo a ilusão sem saber que amanhã
Começará tudo de novo

Em 26/07/2002
Boa Vista do Tupim às 23h14min